O que der na telha

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terça-feira, 7 de setembro de 2010

Uma história sobre a força do amor

A viagem de ida foi apenas um caminho em que eu pensava que iria chegar, passar uns dias e depois voltar, cumpriria o meu dever, assim simples fácil e rápido.
Ao descer do ônibus tudo que eu queria era arrumar o meu cantinho e tomar um banho, mas não foi isso que aconteceu. Foi naquele momento que eu percebi que a minha missão tinha começado, e que aquela história não iria acabar tão cedo, e que o meu dever era muito maior do que eu pensava. Fomos recebidos de um jeito tão acolhedor, encantador, pessoas sorrindo e cantando "Missionário ê, missionária A, Avaí te chama, e o povo espera ver você chegar!", e foi com esse verso simples e pequeno que vi no rosto de cada morador uma história, uma vida, e o mais importante, a esperança. No caminho até a igreja vi muita vontade de lutar em cada pessoa ali, e no caminho de volta pude perceber que iríamos precisar de muita força para seguir com essa luta. Força é uma palavra forte, mas a que mais se encaixa com o que eu quero dizer.
Descarregar o caminhão, tarefa difícil, na verdade nem um pouco quando se tem uma corrente de pessoas que têm uma vontade imensa de ajudar, passando de mão em mão, mãos que querem ajudar, mãos que querem lutar.
O tempo foi passando, eu mal reparei mas já estava na hora das oficinas, fé e política era a minha, e o que tínhamos planejado não deu certo, então fizemos um improviso que saiu melhor do que poderíamos imaginar. Pedimos para cada pessoa ali falar sobre sua vida, algumas estavam com vergonha, outras queriam mais é falar mesmo. Pude ver que a maioria gostava de viver ali, pela simplicidade de cada um, pela paz e falta de violência, pela união, lá é um por todos e todos por um, mas também tinha quem queria sair, para ter um futuro melhor e depois voltar ou até mesmo quem sonhava em sair daquela miséria.
Com o tempo fui me acostumando com a ideia de que tudo que eu imaginava da viagem iria mudar, e que os momentos iriam ser mundanos, que tudo seria diferente. Aprendi que é brincando com crianças que voltamos na infância, que não é preciso ser o peter pan, e nem morar na terra do nunca para isso.
Em algumas casas um banheiro com chuveiro pia e vaso, e principalmente com seus moradores prontos para nos receber de braços abertos para tomar banho, e se fizéssemos isso na casa de amigos ou vizinhos eles iriam estranhar, mas não aquelas pessoas.
Muitas conversas, risos e brincadeiras, e depois disso um bom sono. Despertador toca e a preguiça vem, levanto e me arrumo, era mais um dia, e a continuação de uma história. Vamos, hoje é um dia leve e simples, porém cheio de emoções, é dia de visitar as casas. Ao entrar consegui enxergar que com amor e simplicidade era possível ser feliz, e que com organização tudo fica mais fácil. Tentei dar atenção a todos ali, mas ficava cada vez mais difícil, elas queriam exclusividade. Com o tempo parecia que cada um fazia parte de mim.
As oficinas chegaram de novo, e dessa vez ficou uma pareceria de fé e política com 3ª idade, ficou especial, tomar conta das crianças, desenhos e brincadeiras, pular corda e contar histórias, e então acaba. Outro banho, outra casa, outros sorrisos. Uma missa mais do que especial, e o apoio de um amigo que quero levar pra vida toda.
Chegou a noite, e junto com ela o momento mais difícil, é a hora de falar. E foi nessa hora que tudo começou a mexer em mim, fez uma bagunça imensa, a cada pessoa que falava eu tinha vontade de gritar, lágrimas começaram a cair quando uma amiga falou de família, mas foi uma fala especial que mexeu mais comigo, e tenho certeza que mexeu com qualquer um que ali ouvia. Era algo parecido com: "Todos aqui falam que as pessoas aqui passam felicidade pelo olhar, mas por traz disso é possível ver a tristeza e o sofrimento", essa pessoa começou a falar coisas que todos se identificavam, ou pelo menos a maioria. Chegou a um ponto em que eu não podia mais, não conseguia ouvir aquilo tudo, então saí, fui pra um canto e chorei um bocado no colo de uma amiga, desabafei tudo que me perturbava naquele momento. Depois disso todo o sono que me consumia passou, sentei em um canto com algumas pessoas e começamos a olhar as estrelas, parecia que o mundo tinha girado ao contrário, logo fui dormir.
O despertador toca de novo, levanto e me arrumo, espero as outras pessoas acordarem pensando em como o dia é bonito naquele lugar, seria um dia difícil, fui de palhaça brincar com a vida. Pipocas, cachorros quentes, refrigerantes, e por fim brinquedos, mas no meio de tudo muitas brincadeiras, e nelas podemos sentir o cansaço, e mesmo assim tiramos forças, não sei de onde, para estar ali pulando mais, brincando mais, sem parar. Acho que é a força do amor que nos guia, e faz com que no final nós conseguimos fazer tudo aquilo que queremos e muito mais.
Chegou o momento de relaxar, e com uma "guerra de água" nos refrescamos e divertimos, e quando acabou sentamos e conversamos, e quando parei pra perceber já estava quase no fim, eu não queria que esse fim chegasse. Outro banho, outra casa, e novamente outras pessoas nos acolhendo. Passou o tempo de novo, e a missa de despedida chegou, mais lágrimas e muitos abraços, "olha eu, de novo chorando, sou besta ?" falei isso com um garoto que mora por aqueles cantos, ele achava que eu chorava porque não queria voltar, achava que não iria sentir saudades e que em poucos segundos esqueceria tudo, não é assim, tudo que eu quero é voltar, saudades é o que não vai faltar, e eu nunca vou esquecer, ele percebeu isso, e com um sorriso encantador me abraçou. Aquele amigo que estava do meu lado na outra missa me abraçou forte e disse para parar de chorar e sorrir, foi o que fiz, mas quando falaram de uma amiga, aquela que eu desabafei tanto, começaram a contar que ela vai embora, que vai mudar de cidade, eu já sabia, mas mesmo assim não consegui me segurar, no final já nem tinha mais lágrimas pra chorar. Despedida não é fácil, mas assim eu fiz, dei tchau para aqueles que ficavam por ali, com um aperto no peito fui embora. Ao acordar de manhã eu queria voltar, sorrir chorando é o contraste de viver, ás vezes estamos rindo sem ao menos saber o porque, não penso, não falo o que vem em mim, o medo que sinto pode me fazer chorar, mas um dia me fará sorrir...

Muitas pessoas me surpreenderam, me fizeram rir, mudaram na minha cabeça a imagem que eu tinha delas, e eu agradeço muito a elas por isso! Vocês se tornaram especiais para mim.

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